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Hospedando o mundo
Posted by Larissa Araújo
on
14:24
Porque não tem como falar da minha experiência de
intercâmbio sem falar do “couchsurfing”, uma rede social segura em que as
pessoas hospedam outras de qualquer parte do mundo em suas casas, podendo
compartilhar assim experiências, culturas, fazer novos amigos e praticar um
idioma. Essa é a minha definição para uma das melhores experiências que tive
quando o assunto é viagem. Graças ao couchsurfing, pude economizar o dinheiro
da hospedagem em diversos lugares e conhecer pessoas incríveis, outras nem
tanto.
Tudo começa com o cadastro no site, você informa seus dados,
cidade onde mora, detalha a sua casa, o tipo de acomodação que você pode
oferecer e por fim adiciona amigos. Para manter a segurança e seriedade do
site, você adiciona informações sobre seus amigos, como se conheceram, há
quanto tempo se conhecem, se você confia nele etc. Pronto, perfil completo, já
pode buscar por um “sofá” nos lugares mais remotos do planeta.
A minha primeira experiência não foi das melhores, fui
passar um final de semana na Espanha, na cidade de León e lá fiquei na casa de
quatro estudantes, todos estrangeiros. O brasileiro não era dos mais
simpáticos, o que me impressionou, disse que eu e meu amigo não falávamos
espanhol o suficiente para ficar na casa dele e poder interagir com os outros,
já que a regra era falar espanhol na casa. Tudo bem, superei essa e prossegui
ainda assim com a ideia de me hospedar lá. O italiano mal falava e quase não
estava em casa, sobrou o francês e a sueca, duas criaturas exóticas, mas muito
simpáticas, até mesmo quando eu arriscava o proibido inglês nos diálogos.
Depois de um dia inteiro conhecendo a cidade, voltamos a
nossa “casa” e encontramos portas fechadas e ninguém para abrir, esperamos,
ligamos, esperamos e depois de muito tempo, alguém abriu o portão e conseguimos
subir até o apartamento onde a sueca havia acabado de acordar, o francês ainda
dormia e os outros não estavam por lá. Conversamos um pouco e logo fomos
dormir.
No dia seguinte aconteceu a mesma coisa, chegamos depois de
um dia cheio e encontramos portas fechadas, depois de longa espera, conseguimos
subir. Nossos “hosts” então, nos convidaram para uma festa, achei a ideia
legal, finalmente vamos interagir! Engano meu, tivemos que nos virar e conhecer
as pessoas por nossa conta, até que com sucesso!
No fim da noite, com a polícia ameaçando aparecer por conta
do barulho, deixamos o apartamento e voltamos pra casa, foi então que quando
achei que ia descansar tive uma longa noite acordada. Na sala em que íamos
dormir, se reuniram os nossos hosts e seus amigos para uma noitada regada a
bebidas, música e conversas, não que eu não goste disso, gosto muito, mas
esperávamos uma maior integração e ali nós éramos apenas expectadores. Foi a
primeira vez que vi alguém cheirar cocaína tão de perto, tão natural.
As outras experiências seguintes foram ótimas, ou pelo menos
muito boas. Liverpool. Acho que boa parte da graça de Liverpool foi por ter
“surfado” no sofá do Ray. Um inglês viajante muito experiente e cheio de
histórias para contar, apesar de ter rodado o mundo ainda vivia em sua terra natal. Fomos muito recebidas e
ganhamos o melhor quarto da casa, o escritório. Um sonho de escritório, livros,
livros, discos, fotos, um violão, um computador, muitas anotações. História e
música vivas naquela pequena sala, eu não sabia para onde olhar, o que tocar,
queria ler tudo, queria ficar ali. Café da manhã regado a conversas e
orientações que eu ouvia com atenção, afinal aquele homem tinha muito a
ensinar. Dois dias na cidade e um maravilhoso jantar de despedida, comida
indiana, música e aquele papo gostoso. Até ajudamos a preparar o jantar! Fotos
registraram esse momento inesquecível.
Em Londres, foi a vez de um português no receber e fazer
todos os esforços para conseguir abrigar todos em seu quarto. Éramos cinco
intrusos apertados no quarto do jovem programador de computadores. Foi a
primeira vez que um host nos acompanhou em um passeio pela cidade, foi um dia
divertido e diferente.
Ah, Paris. Tivemos o prazer de nos hospedar na casa de
franceses, três jovens amigos que dividiam apartamento em P’orte de Orleans. Um
casal de namorados e o melhor amigo deles moravam na casa que foi nosso lar por
cinco dias. Comunicativos de um jeito tímido, eles nos levaram logo para
conhecer a cidade e aproveitar a noite num bar. No caminho de volta para casa
tivemos a oportunidade de ver o metrô de um novo ângulo, fomos na cabine de
operações, junto ao “maquinista” (?) durante todo o trajeto de volta.
Durante o período da nossa estadia em Paris, pudemos
conhecer locais pouco visitados por turistas e aproveitar do melhor da cozinha
francesa sem pagar caro para isso, coisas que só mesmo com um francês nos
orientando para podermos experimentar.
Amsterdam foi a viagem mais “zen” que fiz, o nosso host
turco-holandês era um amor de pessoa e tinha uma filhinha que era uma graça.
Ufuk foi nos buscar na estação de ônibus, nos levou pra sua casa, nos deu todas
as orientações possíveis sobre a cidade, tudo anotado num pedaço de papel cor
de laranja. Fazia questão de colocar música brasileira para que nos sentíssemos
em casa, nos emprestava o seu computador para que nos comunicássemos com nossas
famílias e até nos levou no ponto de ônibus de manhã bem cedo, para se
despedir. Não conversamos muito, mas só os seus gestos já demonstravam o amor
de pessoa que ele era, além de nós, hospedou ao mesmo tempo uma norte americana
muito simpática, a Lisa.
Em Bruxelas tivemos uma experiência engraçada na casa de
três jovens garotos belgas, todos estudantes e amantes da vida boêmia. Quando
chegamos, eles não lembravam que nós íamos, o que foi bastante divertido pelo
fato da casa estar toda bagunçada e eles correrem para tentar organizar tudo.
Tudo pronto e eles fizeram um almoço para nós, durante o qual conversamos sobre
tudo e obtivemos dicas sobre a cidade. Nossa estadia foi bem rápida, no dia
seguinte eu já deixava a cidade, mas agradecida pela hospitalidade.
Fui para Coimbra para ver mais um show da Madonna e lá tive
a oportunidade de me hospedar na casa de dois simpáticos brasileiros que
conheci na minha viagem para o Marrocos. Daniel e Cynthia são pessoas
divertidíssimas que nos receberam de braços abertos, tivemos um jantar regado a
muitos risos e conversas e depois um passeio pela cidade. Nós conhecemos os
principais bairros, os melhores bares e alguns dos amigos deles. No dia
seguinte após o show, mais prosa e comentários sobre o show, no dia seguinte a
despedida com vontade de algum dia voltar.
Depois de tantas experiências, acho que o Couchsurfing foi
uma das melhores invenções dos últimos tempos. Ela ajuda a integrar pessoas e
culturas, promovendo a união e experiências inesquecíveis. Se o dinheiro está
curto ou se está interessado em vivenciar o dia a dia dos nativos da cidade que
pretende ir, o Couchsurfing é a melhor opção. Espero poder também receber
pessoas em minha casa e encontrar muitos Rays, Ufuks, Daniels, e Cynthias pelo
mundo afora.